MIDIA E INFÂNCIA

Infelizmente, a programação oferecida ao público infantil não leva em consideração uma fundamentação teórica dos elementos pedagógicos e/ou dos psicológicos. Sua meta é verificar como está o seu elemento principal, o Ibope, que retorna em lucros, muitos lucros. E assim, as nossas crianças assistem TV, programas acima de sua faixa etária, sem que ninguém os comente. Quais as influências desses efeitos em nossas crianças? O que ocorre entre essa máquina e a criança? Por que será que o mundo está tão violento? Estas são algumas questões para refletirmos, analisarmos e colocarmos na balança o tipo de programação e tempo de exposição que nossas crianças ficam submetida frente ao televisor.

Quando uma criança está brincando em silêncio os pais dizem: “O que será que ela está fazendo?” “Está tão quieta! Alguma coisa errada ela está aprontando!”. Mas, quando as crianças estão diante da TV assistindo um desenho, ninguém questiona o perigo que há, pois elas estão quietas. No entanto, ao contrário do que se pensa, nem toda programação ou nem todos os desenhos são adequados para este público.

Semana passada liguei a TV e:

“Toin..., Chiiii..., Bum..., ommmmmmm...”

“Pciiii..., Bummm..., aaaaiiiii.....!!!!!”

“Vamos destruí-lo ?”

“Eu tenho a força !”

“Eu sou o poder, tudo é meu !”

Assim é o início de um programa infantil, reconhecido como um novo fenômeno do ibope – Dragon Ball, transmitido por um canal de TV aberta. As histórias possuem início, meio e fim e retratam de maneira novelesca e pesada seus personagens. Como o aspecto trágico de cada episódio é exageradamente explícito, as crianças ao assistirem a esses desenhos ficam expostas a situações em que suas emoções são irresponsavelmente intensificadas.

A palavra é considerada como símbolo, é através dela que a criança se torna socializada e também desempenha um papel importante, facilita o desenvolvimento na formação dos conceitos, da moral, da ética, do saber esperar, reconhecer que a às vezes a gente perde, e às vezes ganha, e que a violência física não ajuda a situação. É através da linguagem que se amplia o universo humano, onde refletimos o mundo externo, como também desenvolvemos a consciência.

Quando analisamos a linguagem dos desenhos notamos que as palavras mais recorrentes são destruir, atacar, força e poder – seguidamente, em cada quadro, a cada minuto! E as crianças as repetem enquanto brincam… Quais são os valores que estão sendo apreendidos? Qual é código moral que tem o grupo de crianças, se a grande maioria delas assiste em suas casas a aproximadamente por dia umas três horas de desenhos? Há alguém com as crianças, orientando-as, explicando esse mundo irreal? E como estarão nossas crianças aqui alguns anos? Quais valores foram construídos em sua formação? É todo isso é de se pensar. Não é?

Lembram-se do antigo marinheiro Popeye, que toma seu espinafre, para ter a mulher amada e tirá-la de seu rival, Brutus. Os desenhos usam muito dos recursos das vitaminas, mas só que em estilos mais modernos, elas se transformaram em cápsulas. O herói ingere anunciando seu desejo: “Vou tomar três pílulas que são suficientes para obter meus poderes!” (poderes estes, que estão além das possibilidades normais de um ser humano), mas, enquanto desenho, o personagem vai poder tudo. Alguma semelhança com as drogas? Como as crianças vêm isso? Como elas responderão num futuro próximo?

Pais, o que fazer? Em primeiro lugar devemos olhar para isso. Verificar o tempo de exposição à televisão, assistir os desenhos junto aos seus filhos, questioná-los, perguntar, investigar, tirar os antigos brinquedos do baú, incentivá-los, a jogar damas, xadrez, futebol, queimada, mostrar-lhes que estão no mundo real e que esse mundo é diferente dos desenhos que tem valores diferentes e significados diferentes.